11.1.12

Amor em Desespero

Sou eu que sempre tudo diz.
E só assisti o teu silêncio.
Mas era eu dar as costas pra você se desesperar.
E sair falando tudo.

- Eu te amo. Amo tudo em você. O teu ciúme, os teus defeitos, o seu tempo pra troca de marchas no seu carro, teu som, teu sorriso de canto de boca, tudo. O tudo inclui o todo que vem com você.
Eu não quis. Mas não deu pra ser diferente. Meu coração é tolo. E frágil. Estou entregue.

E você acabava dizendo coisas no contexto errado.
- Eu estou indo embora. Isso deveria ter sido dito há meses. Claro que não, pode falar. Tira isso de dentro de você.

E nada.
Era o meu olhar te calando outra vez.
Aí o desespero era meu. Você choraria em poucos segundos e eu estava no instante entre a fala e a lágrima. Que seria única. E arrastaria todas as outras. O esforço para limpá-las seria nulo.
Recomecei.

- Todas as minhas frases até aqui começaram com eu te amo; virou clichê. Você já sabe. Já sentiu. Até chorei dizendo que te amava. Mas agora eu queria acordar em outro ano, em outra vida, onde você fosse apenas uma brisa que bate no rosto e logo vai embora, só um perfume sereno, uma lua grande no céu.
Eu não queria mesmo esse seu cheiro dentro de mim. Não queria o meu ciúme. Não queria o arrumar do seu cabelo meio olhando de baixo, meia cabeça inclinada. Como alguém que imagina um espelho em qualquer lugar.
Quantas vezes eu servi o teu reflexo?
Enquanto espelho, sei de todos os gestos que te completam. Os que passam despercebidos eu decorei. Quer casar comigo? Eu não suporto a ideia de estar e ser longe, a ideia de te perder,  a ideia de outro alguém.

- Chega -, é essa a sua defesa.
- Vai, pode ir. Tá tudo bem. E o que eu acho já não importa mais -, e essa a tua insistência.
- Não me procura - a minha proposta.

Durmo à meia-noite. Você perde o sono às duas. Eu acordo às nove com você chorando frases pelo meu celular.

- O nó na garganta o dia todo. A angústia dando nó no peito. Eu já não dormi bem a noite passada, lembrei disso hoje, antes de deitar. Procurei na cama o que faltava, olhei pro lado e tudo certo: são três travesseiros e um cobertor, tudo no lugar. Abri o guarda roupa e tirei o presente de Natal que eu tinha enterrado. Junto com o teu cheiro. Eu tentei, mas nele dormi soluçando outra vez, antes que você pergunte.

São nove da manhã do outro dia. Ainda chove porque ainda é verão.
E o frio ainda insiste fora de época.
Tá cinza.
E como dói.

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