29.4.11


O frio soprou mais forte na janela de casa.
Junto da lua trouxe uma carência suprida na vontade de cantar.
Chego mais perto, pra convidar.
Você não se importa com as notas imprecisas.

No silêncio entre uma musica e outra nos falamos pelo olhar.
"Agora é aquela"
Você reconhece os acordes, tá com o ouvido afinado.
Foi feita pra você. Cantamos juntos.
O refrão se repete infinitamente.

Deixo a nota soar, trago a coberta pra cama e uma meia pra esquentar.
Você se ajeita em meus braços.
Amanhã é dia duro de trabalho.
Você vai sonhar.

Notas ecoam na minha mente.
Ainda escolho a próxima.
Quem sabe a preferida pra te acordar.

Um pedacinho de você

Todo mundo quer um pedacinho de você, já reparou?
Não importa como.
Todo mundo quer um pedacinho de você.

É que eu ando questionando algumas coisas.
Te perdi entre o "sempre foi assim" e "a distância deixa você mais interessante".
Duas vezes você.

O sempre assim é pelo sorriso. Sempre foi seu.
Ainda que mais realizado, porém, seu.
A distância é o charme.
E o interessante é que perde-se o controle quando te perde de vista.
Fica meio que na surpresa, o que será que tá acontecendo?

E mesmo de longe dá pra te pegar no colo.
As pessoas é que são pequenas demais por aqui.
Não sabem nada de sentimento. É só sentir.
Mas ainda assim querem um pedacinho de você.

E é por isso que você chora de saudade
se perguntando todos os dias o porque gostar tanto daquela pessoa.
Ela te surpreende com um sinal e você lembra.

É que sem ela não tem graça. Nem Paris.
Não sei, mas a vida empaca, parece.
Fico meio cinza e blasê. Não combina.

É por muitos motivos iguais a esses que
qualquer voltinha besta no quarteirão
te deixa com os olhos brilhando.

Eu nem tento disfarçar.
Eu também quero um pedacinho de você.

26.4.11

Entre amor e amizade

É que quando você conhece alguém demais você acha "normal" dizer coisas que soariam muito estranho. E aí que cada um que passa leva um pouco disso de você. E isso vai se espalhando como o pior vírus do mundo: rápido, calado e fatal.

Você só descobre depois de anos, muitas vezes. Muitos anos.
E bem na sua frente tem uma galera gritando o teu nome. Eles se contaminaram.
E estão todos juntos no mesmo lugar. À espera dos que virão.

É agora que você pára.
O ontem fez dez anos.
Emocionado, lentamente você volta a caminhar. Até que tudo vai tomando forma e meio que volta ao "normal". Você tá sorrindo agora. Tá mais fácil.

E você vai mostrar um novo lado.
O lado que deu certo.
E que vai armar luta séria com o coração.

É o coração... desencana
ninguém manda.

E lá de cima você nota que ainda dá pra ver quem vem chegando.
Aos poucos, ainda assim meio perdido. Mas chegaram e serão bem recebidos.
Fortalecemos. E você os re-conhece sentindo.
Choramos sorrindo.

E fica mais perto.
E fica melhor.
Dá cosquinha se for ver.

É amor, aquilo que uns chamam de amizade.

22.4.11

O amor

Eu não tô falando de um amor que vai bater na tua porta de gola engomada, carro importado e wisky na mão. Impressionar no primeiro encontro não cola. Fica chato demais. Não sustenta e pode decepcionar.

O amor que eu falo chega de mansinho na campainha do coração. A única atenção que quer roubar é a tua. Deixa os outros pra lá. Na hora certa contagia.
- Eu tenho a vida inteira pra te tirar o fôlego. Deixa eu chegar aos poucos pra não enjoar.

É um amor que vem todo dia trazendo um novo acordar, um olhar diferente, o caminhar:
- Seu olho brilha mais forte pela manhã
- É porque eu não precisei olhar pra mais nada. Você estava ao alcance dos meus olhos.

é como estar vidrado.
Completamente apaixonado.

Esse é o amor.
Entregue-se.
Ele vai te chamar.

Um Convite

Linda.
De parar o quarteirão.
Daquelas que você pára pra ver e o tempo pára de rodar.
Todos param em um segundo. É de se admirar.

Quem é você que faz tão bem que me fez acreditar em quem seria você.
Quem é você, se faz tão bem em me deixar acreditar.

Ninguém.
Eu sou o caminho do incompleto.
Me preencho pelo mal. E nunca está satisfeito.
Sofro do abuso do meu próprio eu traindo a mim mesma.
Não há felicidade para aqueles que vivem sozinhos no escuro.

Nada te libertou.
Há uma placa grudenta sobre você que te impede de ser quem você é.
Você sorri tão bem, sabe falar, tem cultura e é... tão linda!
Daquelas que faz o coração parar.

Pára!
Vem viver.
Conhecer um amor.
Descobrir a felicidade.
Uma vida.

Te espero às 21h.

Ass: eu

O encontro

O ar que preenchia aquela noite era forte e do peso exato para espantar a ansiedade.
Enfim o encontro das almas. Um abraço apertado e saudoso que poderia durar a eternidade se não fosse a timidez embriagada.

- Você pode não acreditar, dizer que essa tática com você não vai rolar, mas já estou pulando essa parte. Guarde as velhas palavras e se tente às próximas que virão: estou completamente apaixonado por você - bem assim, de sopetão.

Ela tentou desviar com um leve sorriso no rosto e foi interrompida.

- Olha pra mim.
Ali foram cruzados anos, o encontro definitivo, se encontraram vidas, almas e tudo que vem ou deriva da paixão.
Continuou.

- Seis meses desde aquele dia e a sua imagem não sai do plano de fundo dos meus olhos. Nenhuma promessa fora feita. Esquece aquele lance de vidas divididas, não complica, só vem.

O silêncio ganhou força e foi deixado que todo o resto falasse mais alto.
O coração gritava de felicidade.

16.4.11

Eu não gosto de ficar assim sem nada pra fazer.
Minha cabeça não pára.
Coisa de quem tem cabeça vazia.

Choveu muito,
não sei se no ano passado foi assim
nessa época.
Nem sei se é época de chuva.
Sei que já é época de frio.
Ou quase isso.

Algumas coisas eu esqueci.

7.4.11

Sem você não rola

Eu não tô acreditando que eu tô olhando pra você e tô sentindo isso.
Eu não queria ter lembrado de você nas últimas 6h.
Ouvi demais.
E sabe o que é pior? Tô intolerável.
Eu não tô suportando!

Isso não pode ter acontecido.
Não com você.
Jamais com você.

Há pouco eu senti uma leveza ao dizer o teu nome.
E agora tá pesado.
Suguei a dor que veio de você.
Especialista que sou, não deixei passar.
Você mandou os sinais.
Eu baixei.

Quero atravessar as horas que for pra te buscar.
Cruzar caminhos, descer, embarcar.
Eu não volto sem você.

Tá faltando você lá em casa.
Todos tem a tua cara.
Isso acorda a saudade.
Eu não me acostumei.
Faz mais de um ano.

Vem pra eu lembrar como é te abraçar.
Lembrar o timbre da tua voz desafinada
cantarolando Chico no corredor de casa.
Vem pra eu poder continuar.
Sem você não rola.

4.4.11

Eu não estou fugindo.
Estou dando um tempo.

Não estou calando,
estou escolhendo melhor as palavras.

Não é mentira.
É só uma meia verdade.
Há muitos lugares onde eu posso estar em cada esquina do meu eu.


Quando você souber a data de quando volta, não revele a mim.
Eu não quero te esperar.
Eu só preciso saber que você vem.

2.4.11

Ressaca Moral

O pior é saber que tudo que vem de você não é de verdade.
Esse olhar, essa falsa delicadeza na voz, o cuidado com as palavras.
Não passa de um jogo de mentiras. Que eu aprendi a jogar.

Puro ilusionismo!

Justo comigo que jogo do lado da verdade. Que preso pelo que vem de dentro. O que faz chorar.
E logo com você que nem sabe o que é isso. Essas coisas são assim mesmo. Acontecem sem querer.

Pra você tanto faz. Esse é que é o problema.
Tanto faz pra mim não rola.
Ou uma coisa ou outra.
Tudo que é errado demais pende pro caminho do exagero.
E enjoa.
Faz mal.
Dói.

Tá querendo enganar a quem, pela milésima vez?
Você até consegue por um tempo alguma coisa. Domina o game do irreal.
Aquilo que não tem cor.
Isso é manipular. De fora.
Caminho certo pra mentir. Correndo na trilha do ninguém.
Em linguagem popular: tremendo filho da puta.

Que faz bem. Que acalma.
Tem presença.
Só não sabe o significado do real.
Não leu o dicionário dos sentimentos.
Se perdeu. De novo.

E a gente cai.
Porque a gente gosta.
Por que nós é que somos de verdade.

É pura sedução. Ataca sempre a noite.
Te leva pra cama e no acordar, cadê?
É essa a sensação de ter você: ressaca moral.

Hoje pesou. Fez pensar.
Tá latejando.