São meia noite e eu não deveria estar aqui.
É inverno, mas faz calor.
Deveria acordar cinza e frio.
Mas, não quero acordar e
tento dormir sem coberta.
Hoje não é dia pra se cobrir, é dia de ficar acordado esperando todas as horas que o dia reserva. E mais as extras que a gente cria pro dia ficar ainda mais especial. Ou, sei lá, pra fazer você gostar dele. E ver o brilho que ele (pode ter) tem.
É seu!
São meia noite no Brasil, 4 da manhã em Londres e exatamente meio dia no Japão. E eu não deveria estar aqui.
Mas ainda não acostumei com mudanças. Eu não gosto de quando muda quadro, muda foto, muda cama e muda alguém.
Ok, a gente precisa e cresce.
Mas se quem a gente ama não teve tempo de enxergar o nosso crescimento,
de que valeu crescer?
Olha aí, são meia noite e três e eu pensando na vida ao invés de estar onde eu deveria.
Será que gritando me escutaria?
Meia noite e sete.
Será que alguém fez (melhor) o que eu deveria estar fazendo?
Gerúndio chato.
Na verdade, eu me rendo.
Amanhã deveria não existir.
Não assim.
Deveria ser ponto facultativo na alma.
Já anda tudo na escuridão, incompleto, desajeitado.
Um dia a mais, um dia a menos.
Who cares?
E eu deveria falar sobre coisas boas, não é?
"Ah, Dindi
Se tu soubesse como machuca
Não amaria mais ninguém".
Pois é, as coisas boas vem do seu olhar e o esforço é quase em vão porque no final, o seu telefone sempre da na caixa postal.
Ele cansa.
Você finge que não vê.
E eu, eu não deveria estar aqui.
Meia noite e treze.
E continuo na tentativa de me fazer presente. A vida é muito curta pra sempre dizer não.
Os olhos piscam pesadamente e a cabeça já não ferve em pensamentos.
Ando silenciosamente inconformado.
Mas eu vou até o fim.
Pela última vez.
Eu cantaria no megafone parafraseando quase que totalmente Clarice Falcão que "a gente voltou":
Voltou o sorriso, a paz, a calma.
Voltaram as noites de sono, as manhãs felizes. Acabou a vontade de mundo, pois o mundo foi novamente encontrado.
Sábados completos (é dia de você), domingos em família,
vozes desesperadas com despedidas e um “fica um pouco mais, que tal mais um café”.
Voltaram as contagens regressivas, as viagens inesquecíveis, as falas sobre sonhos e os cochilos entre os filmes.
Voltou o "vc ta dormindo?", o "deita aqui", o "hoje é do seu lado", o "eu não como isso" e aquele sorriso irônico dizendo "come sim".
Voltou o perigo, o riso descontrolado, a vontade de nunca mais sair de um espaço que me foi dado de presente. Chegou a hora de deixar o coração respirar.
Afinal, ele é o teu lugar.
A tua casa.
Chegou a hora de ouvir a tua voz e nunca mais viver sem ar.
Uma da manhã.
Acho que peguei no sonho.
Feliz Aniversário.
Um comentário:
Ela ama. Mora em algum lugar que não conheço. Isto é algo do que sei até agora. Fui ao café. Lá estava ela em frases escritas no meu aparelho. Fiz um pedido, aguardei. Fixei em sua solidão, em seu aprendizado. Retribuindo minha cirurgia, ignorando contradições, suas palavras me mostravam que sua solitude era acompanhada de interlocutores tão queridos. Vez ou outra fazendo graça, talvez simulando leveza; vez ou outra, em outros textos, simplesmente abrindo o peito expondo como é que se pulsa. Será que “Você” a quem ela tanto se refere passeia por entre suas linhas? E eu – que nada sou - talvez, deveria forjar algum contato corriqueiro, tecer elogios em comentários. Um "oi" seria, enfim, o limiar. Se ao menos eu não tivesse medo. Penso na conversa que tive mais cedo, algo sobre o instante em que dois desconhecidos deixam, pela força magnética da comunicação, sua condição para iniciar os velhos rituais de destruição. Ainda assim, eu deveria. E faria. Se tivesse disposição. Se eu fosse insensata. Se tentasse contato para além do laço quase clandestino e unilateral. Ouço o lado B que o disco dela me segreda; com volume baixo e ouvidos colados à emissão de som. Só assim me lanço em linhas vacilantes. A verdade é que me aprecia contemplar ela transbordando em si. A moça e o seu amor. Verbalizado, transpirando. É o seu tema e é, simplesmente, encantador.
Encantada...
Postar um comentário