Eu não reconheci a sua voz.
O único momento real e eu não reconheci a sua voz.
E eu esperei e... Não! Eu não deixei você ir embora assim, eu nem disse que era pra ser assim tão rápido. Se eu ainda quero? É claro que eu ainda quero. Só não esperava que fosse assim,a gora, hoje. Sei lá como eu esperava. Será que eu ainda to nessa de esperar?
Me perdi. Tá vendo? Não to colocando a culpa em você, mas confessa que me pegou de surpresa.
To rindo aqui igual criança. To feliz.
Achei engraçado esse sotaque. Você tá diferente.
É isso! Foi por isso que eu não reconheci a sua voz.
Eu não tô de brincadeira, fala que agora é o caminho final.
Tô com a bandeira na mão cruzando a linha de chegada. Vem?
Cadê você? Aqui onde? Eu não consigo ver.
Só não me fala que você voltou para os meus sonhos. Isso é muito chato!
Vamos, eu já estou aqui embaixo, estou de braços abertos.
Óh, eu não vou ficar aqui o tempo todo e ai de você se for demorar.
Fazer o que? Fazer nada. Eu não vou fazer nada. É modo de falar só.
Alô?
Que susto, achei que... alô?
Fala mais, não é pra eu rir, quero só ouvir a sua voz.
O que veio não pode completar. A ligação era à ficha e caiu ao cruzar com um coração acelerado.
Os últimos que viram contam que a movimentação foi grande por ali. Passos descompassados, boca seca, mãos trêmulas. Uma criança com todos os sonhos do mundo estampado nos olhos que agora brilham.
Nada disse por alguns instantes.
O vento soprou na janela da alma, mas ao invés de varrer o mal, só fez levantar as folhas secas que descansavam no buraco da dor. Quis chorar, ainda que com um sorriso carregado de felicidade.
Foi forte. Respirou fundo e voltou a viver.