Skip to main content

Não existe absolutamente mais nada que eu possa fazer. Meu peito ardia como brasa enquanto a tristeza se infiltrava lenta e venenosa. Foi como rasgar a esperança em tiras finas. E, se ela é a última a morrer, em mim já descansa sem flores, velada ao lado de tudo o que um dia foi amor. O mais cruel não foi a tua ausência repentina, mas o teu adeus em gotas porque não sou bom com despedidas. Como droga diminuída em doses homeopáticas, tua presença foi se desfazendo até que um dia despertei, me olhei no espelho e não te vi. Estranhei o espelho, estranhei o trem em que não te beijei, estranhei minhas próprias mãos vazias, sem as suas pra segurar.

E como todo vício que se desfaz, a abstinência me rasgou em noites insones, em lembranças febris, em silêncios que ardiam na boca. Havia tremores, havia sede, havia a ilusão de que bastaria uma fagulha tua para me incendiar outra vez. Mas o tempo foi limpando meus poros, purificando o sangue, te expulsando de cada canto de mim. Até que um dia percebi que minha boca já não dizia o teu nome, e meus pensamentos não chamavam por ti. Nesse instante entendi que não restava vício, não restava você. Só o vazio, áspero e limpo, de um amor que morreu em mim. Portanto, não existe absolutamente mais nada que eu possa fazer.