Era cedo ainda quando ela me acordou com uma mensagem dizendo que viria passar o dia comigo. Chegaria em duas horas. Dei um salto da cama, tomei banho, preparei um café forte — não só pra acordar, mas pra perfumar a casa. O tempo ideal pra ter o espaço só pra mim. Me fiz bonito, exercitei a respiração e esperei o tempo passar. Para um ansioso, você pode imaginar o desafio.
E então ele chegou. E me trouxe ela, pontual. Coisa de britânico. Quer dizer... enfim. Abri a porta com um sorriso largo. Mal podia acreditar: ela estava em casa. Um abraço longo, apertado, seguido de um beijo molhado de bom dia.
— Não vai me convidar pra entrar? — ela pergunta.
— You are already in!
— Shoes off?
— Clothes too.
She laughed.
Outro beijo.
Ela vestida dela mesma. Olhar pra ela dentro da minha casa era como ter a sensação de que ela era minha. E só minha.
— Vem, vou te mostrar tudo.
Tour pela cozinha e sala.
Mãos dadas. Downstairs. Chuveiro e cama.
— Aqui onde tudo acontece? — ela pergunta com aquele sorriso de canto de boca.
— Not a lot going on at the moment.
E ela sabe que é uma citação da Taylor Swift.
Aproveito a guarda baixa e encaixo meu corpo no dela. Mãos na cintura, as dela no meu pescoço. Nos beijamos lentamente como uma cena em câmera lenta.
Ela diz que não tem pressa, que posso respirar. Que, mesmo com os dias mais curtos no inverno, ela teria todo o tempo do mundo pra mim.
Faz frio, e eu me derreto.
— Café?
— Yes, please.
Mãos dadas. Upstairs.
Enquanto aqueço a água e separo o café mais especial, ela observa o movimento lá fora pela janela.
— Essa rua combina com você. Barulhenta.
— Não aos domingos — me defendo.
Enquanto o café passa, mais um beijo.
Elogio o cabelo macio, e ela (ainda) acha graça do fato de eu ter que ficar na ponta dos pés para beija-la.
Café pronto e sala. Na TV, qualquer coisa que nem lembro — minha atenção está inteira nela. Vejo como se ajeita, como molda o corpo nas almofadas, dona da cena. Eu sonhei com esse instante. E agora que ele existe, não vou perder um segundo daquele charme se espalhando pelo meu canto favorito do mundo.
— Linda. Você é linda.
Ela sorri e me beija.
Depois do último gole de café seu peito vira travesseiro e meu corpo repousa sobre o dela. Em pouco tempo, já não respondo por mim. Na horizontal, tamanho não existe — acho que até disse isso em voz alta, mas não lembro em qual idioma. O calor do café se transfere pros nossos corpos que se procuram, se enroscam, se encaixam. Minhas mãos começam a desenhar o caminho sobre ela. Não é mapa, é desejo. A pele responde, os olhos dela se apertam, a respiração muda. Nossos corpos se aproximam num ritmo secreto e compartilhado. Meus dedos seguem. Respiração presa e pele quente.
De olhos fechados, ela diz que sim.
Cada degrau é uma peça de roupa que se vai.
E quando chegamos ao quarto, fecho a porta.
A porta fechada. E, do lado de dentro, tudo que importa.