Entre o Silêncio e o Sinal: O Final

Para ler ouvindo - Quando Eu Te Encontrar

Tem coisas que a gente escreve sem saber se vai ser lido. E outras que a gente escreve justamente por isso.
Faz quatro meses que o mundo ficou mais vazio —mas não o bastante pra calar o que ainda vive aqui dentro. O tempo tem passado, sim, mas certas ausências não envelhecem. Elas se acomodam, educadas, no canto do peito. Não fazem barulho, só fazem falta. E o mais engraçado de sentir a sua falta é sentir a sua falta enquanto a vida segue.

Às vezes me pego relendo as nossas palavras, e pensando no quão bonito era quando trocávamos palavras bonitas — como se cada uma acendesse uma luz suave no meio da escuridão. Era lindo, né? Era poesia sem precisar de rima. Era encontro em plena distância. Mas o que mais dói — e talvez o que mais me inspire — é pensar que havia tanto amor, e mesmo assim faltou coragem. Que triste; o meu amor transbordava, mas a sua coragem evaporou no medo. 

O mais louco de sentir a sua falta é que mesmo sentindo a sua falta, minha vida continua. E a sua. E a de todo mundo. E sabe o que é curioso? Eu sei como te encontrar. Te encontrei em todas aquelas redes que você tanto fez questão de esconder. Me deram de presente. Um dia te conto —veio de quem jura que te protege do mundo.

Essa carta não é um pedido, nem um convite direto. É só um sussurro. Se um dia a saudade apertar aí do seu lado, daquele jeito que parece que o peito vai implodir, se por acaso você se lembrar de mim mais do que de costume, talvez essa carta te sirva de mapa. E quem sabe, se você souber ler nas entrelinhas, me procure. Com tudo o que faltou dizer, mas nunca deixou de sentir. Na verdade, não precisa nem dizer, eu vou saber. Porque a vida é curta demais pra eu sentir sua falta chorando. Eu vou sentir vivendo. Até passar, caso voce não chegue. Mas se chegar —me dá um sinal. Qualquer um. Um “oi” disfarçado de acaso, em qualquer idioma,  um post que só eu entenderia, uma música enviada sem legenda. Porque às vezes, tudo o que eu preciso é de um gesto pequeno pra acalmar essa parte do peito que ainda espera sem saber se deve continuar.


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