31.8.14

Eu vou fugir, sumir, sair do lugar, me matar, me apagar, me limpar, tentar e (re)começar.

Te deixar 
e me
lembrar.

Lembrar como é sorrir,
como é sentir,
como é dormir sem me dopar.

Arrumar a casa, o quarto, trocar as roupas, o perfume e as fotos.
Mudar a melodia, o tom e a voz.
Organizar uma exposição de mim e colocar tudo de volta para o lugar.
Retratando aos berros a ardência da dor no peito do artista num quadro de tintas ainda molhadas.
Que irão secar.
E virar obras de arte.

Ter calma, aliviar, aprender a respirar.
Lento. Bem lento.
Dando um passo. Dois talvez.
A cada vez em que (re)conquistar o meu eu.

Me apaixonar por quem o espelho reflete.
Todos os dias.
Ter fé e acreditar no brilho que os seus olhos insistem em refletir.

Cessar a dor e viver de mãos dadas comigo.
Até o fim.

4.8.14

Meia Noite

São meia noite e eu não deveria estar aqui.

É inverno, mas faz calor. 

Deveria acordar cinza e frio.

Mas, não quero acordar e 

tento dormir sem coberta.

Hoje não é dia pra se cobrir, é dia de ficar acordado esperando todas as horas que o dia reserva. E mais as extras que a gente cria pro dia ficar ainda mais especial. Ou, sei lá, pra fazer você gostar dele. E ver o brilho que ele (pode ter) tem.

É seu!


São meia noite no Brasil, 4 da manhã em Londres e exatamente meio dia no Japão. E eu não deveria estar aqui.


Mas ainda não acostumei com mudanças. Eu não gosto de quando muda quadro, muda foto, muda cama e muda alguém.

Ok, a gente precisa e cresce. 

Mas se quem a gente ama não teve tempo de enxergar o nosso crescimento, 

de que valeu crescer?


Olha aí, são meia noite e três e eu pensando na vida  ao invés de estar onde eu deveria.

Será que gritando me escutaria?


Meia noite e sete. 

Será que alguém fez (melhor) o que eu deveria estar fazendo?

Gerúndio chato.


Na verdade, eu me rendo. 

Amanhã deveria não existir.

Não assim. 

Deveria ser ponto facultativo na alma.

Já anda tudo na escuridão, incompleto, desajeitado.

Um dia a mais, um dia a menos.

Who cares?

E eu deveria falar sobre coisas boas, não é?


"Ah, Dindi

Se tu soubesse como machuca

Não amaria mais ninguém".

Pois é, as coisas boas vem do seu olhar e o esforço é quase em vão porque no final, o seu telefone sempre da na caixa postal. 

Ele cansa. 

Você finge que não vê. 

E eu, eu não deveria estar aqui. 


Meia noite e treze. 

E continuo na tentativa de me fazer presente. A vida é muito curta pra sempre dizer não. 

Os olhos piscam pesadamente e a cabeça já não ferve em pensamentos. 

Ando silenciosamente inconformado. 


Mas eu vou até o fim. 

Pela última vez. 


Eu cantaria no megafone parafraseando quase que totalmente Clarice Falcão que "a gente voltou":

Voltou o sorriso, a paz, a calma.

Voltaram as noites de sono, as manhãs felizes. Acabou a vontade de mundo, pois o mundo foi novamente encontrado.

Sábados completos (é dia de você), domingos em família,

vozes desesperadas com despedidas e um “fica um pouco mais, que tal mais um café”. 


Voltaram as contagens regressivas, as viagens inesquecíveis, as falas sobre sonhos e os cochilos entre os filmes. 

Voltou o "vc ta dormindo?", o "deita aqui", o "hoje é do seu lado", o "eu não como isso" e aquele sorriso irônico dizendo "come sim". 


Voltou o perigo, o riso descontrolado, a vontade de nunca mais sair de um espaço que me foi dado de presente. Chegou a hora de deixar o coração respirar. 

Afinal, ele é o teu lugar. 

A tua casa. 

Chegou a hora de ouvir a tua voz e nunca mais viver sem ar. 


Uma da manhã. 

Acho que peguei no sonho.

Feliz Aniversário.